No pior dia da minha vida, não sabia o nome dos vizinhos para pedir socorro, relata mãe
Hoje eu conto a história da Fernanda Aranda, 34, do Dose Dupla. No dia 15 de março, a jornalista viveu uma experiência que provocou uma grande reflexão nela e em mim.
Em seu relato nas redes sociais, a mãe das gêmeas Clara e Olívia, de 4 anos, e de Martin, 1, conta que uma das meninas estava com suspeita de rotavírus e vomitava muito durante a madrugada. Ao seguir para o quarto do caçula, que estava febril, o menino estava roxo e convulsionava.
Ela e o marido, Fábio, decidiram levar Martin ao pronto-socorro, mas não tinham como levar as gêmeas, que naquele momento, dormiam.
“Esmurrei a porta do vizinho sem saber por qual nome gritar”, disse.
Assustados, Daniel e Sabrina Pelegrinelli, abriram a porta e atenderam prontamente o pedido para olhar as gêmeas enquanto os pais delas corriam para o hospital.
“Confiei a dois velhos desconhecidos minhas filhas. Não tinha nem telefone para mandar mensagem”, lembra Fernanda, que mora em um condomínio na Pompeia, em São Paulo.
“Nós também saímos cedo, voltamos tarde e não conhecemos os nomes dos demais vizinhos”, explica Sabrina.
“É bem interessante a ideia de que moramos em um lugar há 5 anos e nunca fizemos um churrasco com os nossos vizinhos –uma coisa que em São Bernardo do Campo (SP) ou em Montenegro no Sul (RS), [as respectivas cidades do casal], era possível”, completa Daniel.
Martin recebeu alta no último dia 20. Ele está recuperado e seus olhos de jabuticaba voltaram a brilhar intensamente. Sua febre alta foi motivada por uma virose.
Fernanda e a família entregaram uma suculenta ao casal e agora já sabem que o cachorro deles se chama Backup.
Em seu texto ela também fez uma reflexão sobre viver em regiões altamente povoadas, onde ninguém sabe sequer o nome do vizinho de porta. “Temos o hábito de escolher amigos pelas afinidades, mas isso acaba nos isolando em nichos. Reformulei alguns valores depois do susto que passamos”, conta a mãe ao Maternar.
“Nós já estamos marcando um café da tarde para unir mais a aldeia, como a Fernanda batizou o nosso condomínio”, disse Sabrina.
Você conhece seus vizinhos de porta? Já viveu algo parecido?
“Qual é o nome do seu vizinho?
O meu, porta porta, chama Daniel. Ele e a Sabrina dividem o mesmo hall comigo há uns 3 anos. Mas eu não sabia como eles chamavam. Até eu viver o pior dia da minha vida.
Em uma dessas viroses, durante a madrugada, a Clara colocava as entranhas para fora fazendo com que a gente suspeitasse de rotavírus. Entre um episodio e outro, passei no quarto do Martin para ver se a febrinha estava melhor. Encontrei meu caçula convulsionando.
Seus movimentos involuntários duraram minutos eternos de desespero. Ele então, roxo, virou os olhos me dando segundos da certeza que eu não mais veria aquelas jabuticabas pretas que tanto me iluminam. Enquanto isso, três da madrugada, eu esmurrava a porta do vizinho sem saber que nome gritar. Eu não sabia.
Precisava que ele, meu desconhecido, ficasse com as minhas pequenas para que eu corresse ao hospital e protegesse o Martin de um destino pior.
Ele, o vizinho, saiu em samba canção, com a Sabrina ao lado. Confiei a dois velhos desconhecidos minhas e filhas. E fui para o hospital descobrir horas depois que a convulsão febril do Martin estava controlada. Não tinha telefone para mandar mensagem. Que coisa esse mundo que vivemos.
Óbvio que meu coração ainda esta apertado por este episódio e, além do trauma, estou muito grata a tudo. Ao Daniel e à Sabrina também. Que receberam minhas lagrimas e abraços de gratidão em nosso primeiro encontro sem pijamas, e sem pressa do elevador que não chega e nos faz ter aquelas conversas sobre o tempo.
Ao Flavio e a Milu, nossos parceiros de brinquedoteca que pareciam distantes no oitavo andar para serem lembrados no desespero, mas foram. E nos apoiaram como só os amigos fazem.
Nisso tudo também andei pensando sobre a triste loucura que é uma sociedade de densidade altamente demográfica não ter mais vizinho.
Isso afeta a todos, porém meu viés é o da maternidade. E pelo lado materno, nesta solidão que nos aperta, falta uma vizinhança. Que tome um chá numa tarde fria de puerpério. Que busque um filho em situação de enchente e trânsito. Que rache a pizza num sábado. Que empreste uma xícara de açúcar e se surpreenda como os meninos cresceram.
Dizem que as melhores criações sãos as feitas em aldeia. Sinto forte a ausência de uma tribo.
Combinei com as crianças que vamos fazer um bolo de chocolate para levar para o Daniel e a Sabrina.
Eles têm um cachorro chamado Backup.
Ainda não sabemos se eles gostam de bolo, mas vamos tentar. Chegamos há pouco em casa. Martin esta bem. Eu ainda demoro uns dias
Da garagem, vi que a luz do apartamento de Daniel esta acesa. Fiquei aliviada. Acho que estou reconhecendo minha aldeia”
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