Fotógrafa transforma luto de famílias em memórias

O luto ainda é um tema cercado de tabus dentro da maternidade. Todo luto possui várias fases. A primeira é a negação, quando a mãe evita a realidade, sente como se não estivesse vivenciando aquele momento. Depois vem a raiva, quando surgem os questionamentos de “Por que comigo?”.

A terceira fase é a da barganha, quando a mãe começa encarar a hipótese da perda e tenta negociar para que que o fato não seja verdade. Quando a pessoa é religiosa, geralmente, há pactos, promessas e sacrifícios. Na sequência, vem a depressão, quando a mãe tem a consciência de que a perda é incontornável. Nessa fase é muito comum quadros de melancolia, desânimo, apatia e tristeza.

E por fim, a quinta fase, que é a aceitação –quando há paz e serenidade em torno do assunto.

Não há um tempo determinado para a duração do luto, e é muito comum que pais que viveram essa experiência passem por ondas de pesar. Esses eventos podem ocorrer sem motivos aparentes ou quando há uma data relacionada ao nascimento do bebê, aniversário da morte, dia dos pais ou das mães, por exemplo.

Para tentar amenizar essa dor, um grupo de Belo Horizonte (MG) decidiu oferecer serviços multidisciplinares para essas famílias que estão vivendo o luto. Trata-se do Grupo Colcha, idealizado pela fotógrafa Paula Beltrão, a doula Isabel Cristina e a obstetra Mônica Nardy.

Elas formam uma corrente e acolhem quem passou pela perda gestacional ou neonatal. Além de amparar e dar suporte às famílias no momento da notícia, o grupo orienta cuidadores durante a internação hospitalar condutas mais adequadas que podem abrandar o sofrimento ou, pelo menos, torná-lo menos traumático.

Paula Beltrão oferece gratuitamente uma sessão de fotos onde registra a despedida dos pais e seus bebês. “Às vezes, essa será a única recordação que os pais vão ter do seu filho. É um momento de dor enorme, mas que o tempo transformará em amor”, diz a fotógrafa.

Mãe de três filhos, ela conta que fotografar esse momentos sempre a sensibiliza. “Sofro muito, mas saio com a sensação de estar dando aquela família um acalento e o respeito necessários”.

Nazareth Jacobucci, psicóloga hospitalar especializada em luto, afirma que esse trabalho de despedida é essencial, pois “ter alguns itens como lembrança do bebê ajuda os pais na assimilação da perda”.

A responsável pelo blog Perdas e Luto destaca que para cada casal a experiência pode ser diferente, mas que é muito importante, caso queiram, ter um tempo a sós com o bebê para pegar no colo, abraçar e despedir.  Para isso, ela defende um treinamento específico para os profissionais que trabalham nessa área.

Para ela, a emissão de uma certidão de nascimento também tem muito valor, “porque confere sentimento de pertencimento àquela família”.

No Brasil, o Ministério da Saúde determina que seja emitida certidão quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento, independentemente da duração da gestação, do peso do recém-nascido e do tempo que tenha permanecido vivo. E também no caso do óbito fetal, se a gestação for superior a 20 semanas ou o feto ter peso igual ou superior a 500 gramas, ou tamanho igual ou superior a 25 centímetros.

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