Após ampliação da licença paternidade, espanhóis querem ter menos filhos
Até 2021, a licença maternidade e paternidade serão equiparadas na Espanha (16 semanas). A decisão foi aprovada em abril desse ano e faz parte de uma política de equiparação de direitos, instaurada em 2007.
O que seria motivo de comemoração para muitas mulheres evidenciou uma mudança no comportamento nos homens. Foi o que revelou um estudo recente publicado na Revista de Economia Pública.
Segundo as economistas Lídia Farré, da Universidade de Barcelona e Libertad Gonzalés, da Universidade Pompeu Fabra, os pais que usufruíram do benefício de duas semanas de licença –que entrou em vigor em 2007– se tornaram de 7 a 15% menos propensos a ter outro filho.
Ainda de acordo com o levantamento espanhol, famílias que tiveram filhos antes da lei mostraram pais mais ausentes e menos comprometidos em participar da criação dos filhos. Já as famílias que tiveram filhos após a ampliação da licença para os homens evidenciaram pais mais atuantes e envolvidos na rotina familiar, mesmo após o retorno ao trabalho. A pesquisa foi realizada com homens entre 21 e 40 anos que tiraram licença paternidade de duas semanas.
Muitos são os fatores que podem explicar essa redução, entre eles o senso de responsabilidade, a consciência do esforço e até o custo da criação de uma criança.
Para Anna Chiesa, professora sênior da USP especialista na promoção do desenvolvimento infantil, é papel da sociedade desconstruir a ideia que só a mulher tem instinto para cuidar do recém-nascido. “O vínculo afetivo se constrói com presença. A conexão do pai com o bebê só vai ser gerada se houver participação em sua criação”.
Para ela, colocar o bebê para arrotar, trocar, dar banho ou dar colo também resulta em benefícios emocionais para a mãe –que vive uma oscilação hormonal comum no puerpério.
Quem vive essa mudança de paradigma é o desenhista William Mur, 34. Ele e a namorada, Daiana Vidal,30, esperam o primeiro filho. “Quando nasci, meu pai saiu para um viagem de trabalho em outro estado. Ele pensava que não poderia ajudar em nada estando ali. Para mim, hoje é inadmissível agir dessa forma”.
Além de idas em exames médicos, leituras sobre parto e participação em roda de pais, William diminuiu o ritmo de trabalho para acompanhar a gravidez de perto e se organiza para aproveitar ao máximo a primeira infância do bebê.
Um estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal mostra que pais presentes no início da vida dos filhos geram reflexos importantes no desenvolvimento infantil.
Crianças de pais que fizeram uso da licença paternidade apresentaram maior probabilidade de serem amamentadas no primeiro ano de vida.
Além disso, o aumento da licença paternidade pode ajudar a diminuir a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho e mudar o comportamento das famílias em relação à divisão das tarefas domésticas.
E POR AQUI?
No Brasil, mulheres têm direito a quatro meses de licença e homens a cinco dias. A maioria (que tem direito) tira férias para ampliar o tempo com o recém-nascido.
Empresas cidadã permitem que mulheres tirem seis meses de licença (lembrando que esse é o período sugerido pela OMS para amamentação exclusiva no peito) e estabelecem 20 dias para os homens ficarem em casa.
Também tramita no Senado um projeto de lei que prevê a ampliação da licença paternidade para 15 dias.
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