Passamos os melhores anos das nossas vidas preocupados com bobeiras, diz pediatra

Muitas crianças no sling, bebês correndo entre brinquedos e tapetes de palha no chão, enquanto outros dormem no aconchego do seio materno.

Esse era o clima entre os mais de 200 participantes da palestra sobre alimentação dada neste domingo (10) pelo pediatra espanhol Carlos Gonzáles. “Quem vê, pode pensar que estamos numa convenção de vegetarianos hippies, mas a verdade é que acolher e dar colo aos bebês é uma das verdades de diferentes povos, em diferentes continentes há muito tempo”, diz ele durante a palestra.

Com mais de 400 mil livros vendidos, amplo currículo acadêmico e ícone na defesa da amamentação e da criação com apego, o médico conduziu uma conversa sobre mitos e verdades na criação do bebê para mães atentas na plateia e foi taxativo ao falar como seguir fórmulas são o combustível para errar na educação dos pequenos.

“Somos patéticos como pais. Passamos os melhores anos das nossas vidas preocupados com bobeiras: o bebê não dorme sozinho, o bebê não dorme a noite toda, o bebê chupa o dedo, o bebê não quer comer brócolis. Todas essas coisas não serão problemas em cinco anos. E, em 30 anos. Serão as melhores memórias de nossas vidas”, diz ele.

Durante a palestra, ele coloca fim em diferentes mitos -sono do bebê, amamentação, frustração, castigos, estímulos e alimentação -todos os pitacos que as mães recebem (e todas nós recebemos em algum momento da vida) são derrubados pelo pediatra.

Ele, no entanto, não aponta nenhum caminho milagroso, apenas ressalta a importância de ouvir o bebê, atendê-lo e amá-lo, respeitando seu tempo. “Somos animais sociais. Vivemos em sociedade. Devemos querer que nossos filhos vivam em sociedade. E isso significa respeitar as regras: saber como obter ajuda quando precisar e a prestar ajuda quando pedirem”, diz ele.

 Nas poucas vezes em que confirma sua preferência em algum comportamento, mostra dados. Quando fala sobre cama compartilhada, por exemplo, traz números que demonstram que crianças que dormem com os pais desde o nascimento, têm maior confiança para dormir em seu próprio quarto a partir dos três anos.

“É simples. Se sei que serei bem recebido na cama dos meus pais, posso dormir tranquilamente na minha cama e correr pra deles se algo dá errado, mas se nunca consegui essa confiança de aceitação, vou sempre tentar dormir lá para não ser rechaçado na madrugada”, afirma, mostrando um estudo com crianças suíças, que aumentaram as idas aos quartos dos pais entre os três e os seis anos de idade, quando, segundo o médico, começam a entender melhor as rotinas da família.

Ele também defende que os pais devem investir tempo e amor nos filhos, sem castigos ou recompensas e aceitando que birras acontecem porque os bebês ainda não têm maturidade para entender que não podem ter algo naquele momento.

“O carinho não deseduca. Os adultos são condenados quando roubam, matam e, mesmo assim, só quando vários juízes determinam isso. Mas os pais condenam quando colocamos o pé no sofá,  quando não nos comportamos conforme o esperado. Isso precisa parar”, diz.

 

Gonzáles defende cama compartilhada e menos ‘neura’ sobre criação dos filhos (Luciano Bergamaschi)

Entre as mães na plateia, a psicóloga Fernanda Queiroz Aly, 40, chamava a atenção. Grávida, ela acompanhava atenta aos dados de Gonzáles. “Não concordo com tudo, mas tenho uma aproximação com as posições dele e acho importante expandir o horizonte, ouvir outras linhas de pensamento” afirma ela.

Já a dona de casa Desiree Guedes, 38, levou Liam, de apenas dois meses, à tira-colo para ver de perto o médico espanhol. “Acompanho muito as indicações dele. Hoje amamento em tandem (quando a mãe amamenta bebês de idade diferentes ao mesmo tempo) e faço isso muito inspirada nas informações dele”, diz.

A bancária Kelly Magni, 33 anos, e a professora Thayane Guagliardi Fieri Pereira, 32, saíram juntas do ABC com os filhos no sling para ouvir o médico. “Fazemos dança materna em Santo André e conhecemos lá os livros e as opiniões dele. Foi uma identificação muito grande. Estamos muito felizes de estar aqui e compartilhar esse momento”, diz Kelly.

O médico ainda abordou pontos como a importância de uma alimentação saudável para toda a família para que o bebê crie hábitos alimentares saudáveis e a necessidade da vacinação no controle das epidemias, e finalizou falando de seu neto e sua experiência em ser, agora, avô. “Com meu neto hoje, mais do que nunca, percebo que o tempo passa rápido demais.”

‘Passamos os melhores anos da vida preocupados com bobeiras’, diz Gonzáles (Luciano Bergamaschi)

MAIS PALESTRAS

A palestra ocorreu no Teatro Fecap, em São Paulo, e foi promovida pela Editora Timo, que publica os livros do pediatra espanhol no Brasil. Carlos Gonzáles também passará por Fortaleza e Vitória.

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(REPORTAGEM: PAULA CABRERA)