Medo, angústia e nova rotina; grávidas contam o que mudou com o coronavírus

A vida de muita gente mudou por causa do coronavírus e as grávidas não ficaram de fora. Além das questões psicológicas, aspectos práticos como cancelamento de exames e dispensa de funcionários têm mudado a rotina de muitas mães ouvidas pelo Blog Maternar.

Grávida de quase 40 semanas, Amanda Oliveira mudou radicalmente a organização da casa por causa da pandemia. O primeiro filho, de três anos, estava em adaptação escolar e precisou deixar a escola quando estava começando a se acostumar com a nova rotina. A gestante precisou dispensar duas funcionárias que a ajudariam com os afazeres da casa e com os filhos no futuro.

“Desmarquei o último ultrassom e não irei mais às consultas presenciais”, diz a moradora de Santo André (SP), que está saudável e teve o aval do médico para ficar em casa.

Rubia Stevanato, que mora em Maringá (PR), também está isolada em casa com o filho de um ano e nove meses. Ela está grávida de nove semanas e não conseguiu marcar o primeiro ultrassom e nem os exames laboratoriais simples como os de sangue ou urina.

“É uma gestação às cegas. Estou com medo porque faço parte do grupo de risco. Espero que tudo isso passe até outubro, data prevista do parto. Tenho medo de precisar de atendimento médico e não poder ir pro hospital pelo risco de contágio. Não quero colocar nossa vidas em risco”, diz a gestante, que foi hospitalizada algumas vezes durante e após a primeira gestação por problemas no sangue.

Segundo a psicóloga Damiana Angrimani, que atua com grávidas e puérperas, a situação mundial inédita tem gerado muita ansiedade e angústia nas grávidas e isso é totalmente normal.

“Socialmente é imposto às gestantes nunca reclamarem. Está tudo bem se sentir assim. Não dá para fingir que nada está acontecendo. Isso seria ainda mais prejudicial”, explica.

Para a especialista, é preciso dar vazão a todos esses sentimentos e encontrar acolhimento, uma vez que a gestação já evidencia diversas vulnerabilidades na mulher  –a principal delas a falta de controle sobre as coisas.

Ela orienta às futuras mães a reconhecerem seus limites e repensarem algumas escolhas, como sair de grupos onde há excesso de informação sobre o coronavírus (caso isso seja motivo de angústia), ou escolher horários e sites para se informar sobre o assunto (leia a Folha), mas sem passar o dia todo sendo bombardeada de informações ruins.

Preocupada com o pós-parto, Fernanda Fonseca Bernardes, que mora em Brasília (DF), conta que chegou a achar exagero o decreto de quarentena. Mas depois, entendeu a necessidade do isolamento.

Ativa, ela fazia academia, trabalhava o dia todo e agora está sentindo ter que ficar em casa, reclusa. “Apesar de ruim, estou encarando como uma preparação para o próximo mês [quando o bebê nascer]”.

“Estou tranquila porque estamos na reta final da gestação. Creio que se fosse no começo estaria com mais medo”, diz a mãe, citando problemas de formação no feto.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, não há relatos de malformações em bebês por causa do coronavírus. Também não houve casos de contaminação de gestante para o feto e nem pelo leite materno.

“Acredito que teremos problemas familiares, pois vamos restringir ao máximo as visitas, inclusive dos avós. “O bebê, [que é o primeiro neto dos dois lados], é muito vulnerável. Não queremos que ele fique doente”, lamenta a gestante.

CONSULTAS MAIS OBJETIVAS

As mudanças na rotina também atingiram os atendimentos em consultórios médicos, como explica a obstetra Fabiana Garcia, do Espaço Mãe, em São Paulo.

Consultas presenciais foram encurtadas e questões sem urgência são resolvidas por chamada de vídeo ou mensagens de celular. “Pedimos às pacientes virem sozinhas ou acompanhadas de pessoas sem sintomas de gripe”, explica.

No dia do parto, caso a paciente esteja com sintomas de gripe ou já tenha sido confirmada a presença da Covid-19, haverá redução no número de profissionais acompanhantes durante o parto, e toda equipe usará máscara, luva e óculos para evitar o contágio.

A recomendação às mães é que se desloquem à maternidade apenas na hora ativa do parto. “A alta precoce também tem sido utilizada para que as pacientes e bebês fiquem o menos possível nos hospitais”, diz a médica.

Segundo ela, a presença de doulas nas maternidades de São Paulo também está restritas para pacientes assintomáticas, ou seja, sem sintomas de gripe ou resfriado.

Por fim, a obstetra ressalta que o contágio não é motivo para antecipar o parto. “O bebê que nasce antes da hora corre mais risco de ir para UTI e mais risco de encontrar alguém infectado. Ele está bem mais protegido dentro do útero que fora dele”, conclui Fabiana.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

Apesar de tantas mudanças, a psicóloga Damiana Angrimani tem encontrado aspectos positivos no relato de suas pacientes. “Muitas puérperas dizem que o momento não está tão ruim, porque seus parceiros estão em casa. Isso faz com que se sintam menos sozinhas, sentimento tão comum entre as mães no pós-parto”.

A enfermeira obstétrica Cyntia Baraldi, da Casa de Parto Luz de Candeeiro, em Brasília (DF), também pontua relatos positivos em seus encontros online com as grávidas. “Ouvimos que o momento é de recolhimento, de fazer o ninho para o bebê que vem aí, de ter mais tempo para aproveitar a gestação e olhar para si. Se não fosse isso, a maioria delas estaria trabalhando oito, nove horas por dia, sem prestar tanto atenção na gestação como estão fazendo agora”.

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