Jornalista relata em livro glórias e perrengues com bebê nascida durante a quarentena
De uns anos pra cá ficou mais comum ouvirmos mulheres falarem abertamente sobre o puerpério. O que antes era escondido ou amenizado passa a ser compartilhado abertamente e tira um baita peso das costas das mães recentes que estão enfrentando privação do sono, desconforto com o novo corpo, medo e inseguranças com um ser tão dependente diante delas.
No passado, esse período costumava ser mais leve para as mulheres. Vizinhas e parentes que moravam perto auxiliavam nos afazeres domésticos, enquanto a atenção da puérpera estava voltada exclusivamente para o bebê.
Com a pandemia do novo coronavírus, muitas famílias se separaram fisicamente e grande parte das mães tiveram que abrir mão de qualquer tipo de ajuda externa. Agora, o isolamento é duplamente mais pesado.
Violeta nasceu em meio a tudo isso. Filha de um casal de jornalistas, Anna Virginia Balloussier e Victor Ferreira, a pequena certamente não sente falta do mar, das festas ou do Carnaval como seus pais, mas ainda não conheceu os avós paternos e o contato externo é bem restrito. Desde seu nascimento, no dia três de março, sua mãe passou a escrever um diário, que agora virou livro. Nele, conta perrengues e alegrias dos primeiros 40 dias da filha trancada com os pais, em um apartamento em Copacabana, no Rio.
Já tive oportunidade de trabalhar por um período com a Anna na TV Folha. Ela é responsável por algumas reportagens memoráveis na editoria: Crianças de 9 religiões diferentes desenham seu jeito de encarar Deus, A Copa VIP dos “yellow blocs” e Alemanha 7, Brasil 1: O dia do massacre do Mineiraço, quando assistiu à final da Copa ao lado de Paulo Maluf.
No jornal, seus textos sempre figuraram entre os mais lidos. Ela escreve bem, já foi correspondente da Folha em Nova York e exibe uma postura segura para todos que a cercam. No livro, ela desmonta tudo isso. Decide abrir medos, inseguranças e traumas que fazem dela ainda mais admirável.
Talvez ela não precise de mim – Diários de uma mãe em quarentena fala de choro, dúvidas, virilha sem depilação e retorno à vida sexual. Fala também daquele amor diferente de todos os outros, aquele que era sonhado e desejado a cada sopro de velinhas de aniversário.
“Ser bem-sucedida no trabalho, reconhecida pela minha escrita, tudo isso é importante pra mim. Mas me desconsertava muito mais a perspectiva de morrer sem filhos do que ter um texto destroçado por alguém que eu admire, embora eu projete para o mundo exterior que a segunda hipótese me abalaria mais. Empregar bem uma vírgula preenche um ego, não uma vida”, diz um trecho do livro.
Cólicas, diferenças conjugais e muita cumplicidade também aparecem no livro (Victor é daqueles pais que cumprem seu papel, além de saber a quantidade de amaciante ideal ao lavar as roupinhas). E por fim, há alguns socos no estômago. “Escrevi porque precisava expurgar”, conta a jornalista.
Apesar do nascimento ter ocorrido no meio de uma pandemia terrível, Violeta é abençoada. Não só por ter a mãe por perto o dia inteiro, mas por essa mãe ser a Anna.
SERVIÇO
Talvez ela não precise de mim – Diários de uma mãe em quarentena (Todavia, 80 p.)
E-book com promoção de lançamento: R$9,90
Livro impresso: R$30 + frete
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