Acupuntura em grávidas atua desde enjoo até em virar o bebê para o parto

Cada dia mais se debate a importância das práticas integrativas nos desfechos positivos da gestação e do parto.

Reconhecida oficialmente em 2017 na lista de tratamentos oferecidos pelo SUS (apesar de ser usada desde a década de 80), a acupuntura é uma dessas práticas e ganha espaço entre as grávidas porque substitui, por exemplo, o uso de anti-inflamatórios –proibidos durante a gestação.

Durante a sessão, as agulhas estimulam as terminações nervosas existentes na pele e nos tecidos subjacentes e o “recado” gerado por esses estímulos segue pelos nervos periféricos até o sistema nervoso central onde são liberadas diversas substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores, que desencadeam a analgesia na mulher, atuam como anti-inflamatório, relaxante muscular ou sedativo.

“As agulhas também podem agir sobre o sistema endócrino, imunológico e como moduladora sobre as emoções”, explica Roberta Girelli, médica especializada em acupuntura. Ela cita desfechos positivos em casos de cólicas no início da gestação, enjoos, vômitos, depressão, ansiedade, insônia e constipação intestinal.

“Durante as primeiras sessões percebi uma nítida melhora na ansiedade e mais para o fim, fiz sessões para a Olívia virar [estava pélvica] e deu certo [ficou cefálica]”, conta Julia de Santi, 36, que conseguiu ter a filha de parto normal após a cesárea do primeiro filho.

Acupuntura ajudou a amenizar os enjoos de Julia e aposicionar a bebê para o parto (Arquivo Pessoal)

Ela conta que após a bolsa romper chamou a acupunturista em casa e a ação das agulhas ajudaram a engrenar o parto.

Mãe de dois meninos, Viviane Guizelini, 44, também buscou ajuda na primeira gestação para diminuir os enjoos, problemas musculares, ansiedade e alergias. “Tratei rinite alérgica e o resultados era imediato, ao ponto de entrar na sessão com coriza e sair sem desconforto e sem o nariz estar escorrendo”, lembra. Na segunda gravidez, Viviane não conseguiu fazer sessões de acupuntura e notou mais incômodos durante a gestação.

“Os incômodos foram mais evidentes. Tive contrações de treinamento a partir da 26ª semana e também muita pressão no períneo, além de dor nas costas. Era uma mistura de queimação com algo ‘rasgando’ por dentro. A acupuntura fez muita falta”.

Presentes no histórico de muitas mães, cefaleia, lombalgia e síndrome túnel do carpo também podem ser tratadas com as agulhas.

Essa liberação de substâncias de forma endógena (produzidas pelo próprio organismo) é uma opção segura em todas as fases da gravidez, mas deve ser feita por profissionais especializados e com aval dos médicos que companham essa mulher no pré-natal.

Gestantes com distúrbios de coagulação ou anticoaguladas precisam de mais atenção e é preciso atentar para o que os antigos livros da medicina tradicional chinesa chamam de ‘pontos proibidos’, porque alguns deles estimulam a contração uterina.

Viviane e os filhos Vitor e Antonio (Lente Materna Fotografia/Arquivo Pessoal)

 

“A acupuntura, como qualquer tratamento, não promete exclusividade. Pelo contrário, a colaboração do paciente é essencial ao bom andamento de qualquer opção terapêutica”, destaca Silvana Maria Fernandes, acupunturiatra do Centro de Medicina Integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre.

Silvana cita a correção de hábitos alimentares a ingestão equilibrada de líquidos, um sono regular e prática de exercícios físicos adequados a cada fase gestacional como complementares ao tratamento.  “Tratar ou equilibrar comorbidades, de preferência antes de engravidar e controlar as condições emocionais também são aspectos relevantes abordados na consulta inicial, onde uma anamnese completa deve ser realizada, levando-se em conta todo o histórico médico da paciente, incluindo corpo e mente”, explica.

A literatura também apresenta bons resultados da acupuntura no pós-parto, em distúrbios da lactação (hipogalactia) e em quadros de depressão.

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