Maternar https://maternar.blogfolha.uol.com.br Dilemas maternos e a vida além das fraldas Fri, 03 Dec 2021 15:35:24 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 ‘De cócoras’, podcast quer dar voz a gestantes e sanar dúvidas sobre parto https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/10/19/de-cocoras-podcast-quer-dar-voz-a-gestantes-e-sanar-duvidas-sobre-parto/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/10/19/de-cocoras-podcast-quer-dar-voz-a-gestantes-e-sanar-duvidas-sobre-parto/#respond Tue, 19 Oct 2021 14:04:07 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/WhatsApp-Image-2021-10-15-at-20.27.53-320x213.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=9339 Preciso fazer exame de toque vaginal em toda consulta de pré-natal? Até quando é seguro transar grávida? A analgesia pode atrapalhar o parto normal?

Essas foram algumas das dúvidas mais comuns recebidas nas caixinhas das redes socias de Fabiana Garcia e Bianca Rocha, obstetra e obstetriz, respectivamente.

Sem conseguir aprofundar nos assuntos, mas alcançando cada vez mais mulheres, a dupla decidiu criar um podcast para sanar dúvidas sobre gestação e parto.

O nome escolhido foi De Cócoras Podcast. “Primeiro e único nome cotado, a ideia é tirar da horizontal, do tradicional, e fazer pensar em novas possibilidades”, explica Fabiana Garcia.

A dupla também usará a bagagem em consultório para responder a mais questionamentos.

“Ainda recebemos mulheres que sabem muito pouco sobre o processo fisiológico de uma gestação e de um parto. Vemos que elas carregam uma grande insegurança por saberem tão pouco sobre esse período de suas vidas”, observa.

A primeira temporada tem oito episódios e tratará sobre até quando é seguro esperar o nascimento, indicações reais de cesariana, analgesia no parto, parto normal gemelar, entre outros.

Os programas contam sempre com convidados que podem ser pacientes ou profissionais com saberes que elas não dominam ou que vivem realidades obstétricas diferentes das delas.

Logotipo do podcast De Cócoras, que estreia nesta quarta-feira (20), no Spotify

SERVIÇO

De Cócoras Podcast 

Estreia quarta-feira (21), no Spotify e Youtube.

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Acupuntura em grávidas atua desde enjoo até em virar o bebê para o parto https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/09/24/acupuntura-em-gravidas-atua-desde-enjoo-ate-em-virar-o-bebe-para-o-parto/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/09/24/acupuntura-em-gravidas-atua-desde-enjoo-ate-em-virar-o-bebe-para-o-parto/#respond Fri, 24 Sep 2021 16:22:02 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/WhatsApp-Image-2021-09-23-at-16.39.09-320x213.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=9298 Cada dia mais se debate a importância das práticas integrativas nos desfechos positivos da gestação e do parto.

Reconhecida oficialmente em 2017 na lista de tratamentos oferecidos pelo SUS (apesar de ser usada desde a década de 80), a acupuntura é uma dessas práticas e ganha espaço entre as grávidas porque substitui, por exemplo, o uso de anti-inflamatórios –proibidos durante a gestação.

Durante a sessão, as agulhas estimulam as terminações nervosas existentes na pele e nos tecidos subjacentes e o “recado” gerado por esses estímulos segue pelos nervos periféricos até o sistema nervoso central onde são liberadas diversas substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores, que desencadeam a analgesia na mulher, atuam como anti-inflamatório, relaxante muscular ou sedativo.

“As agulhas também podem agir sobre o sistema endócrino, imunológico e como moduladora sobre as emoções”, explica Roberta Girelli, médica especializada em acupuntura. Ela cita desfechos positivos em casos de cólicas no início da gestação, enjoos, vômitos, depressão, ansiedade, insônia e constipação intestinal.

“Durante as primeiras sessões percebi uma nítida melhora na ansiedade e mais para o fim, fiz sessões para a Olívia virar [estava pélvica] e deu certo [ficou cefálica]”, conta Julia de Santi, 36, que conseguiu ter a filha de parto normal após a cesárea do primeiro filho.

Acupuntura ajudou a amenizar os enjoos de Julia e aposicionar a bebê para o parto (Arquivo Pessoal)

Ela conta que após a bolsa romper chamou a acupunturista em casa e a ação das agulhas ajudaram a engrenar o parto.

Mãe de dois meninos, Viviane Guizelini, 44, também buscou ajuda na primeira gestação para diminuir os enjoos, problemas musculares, ansiedade e alergias. “Tratei rinite alérgica e o resultados era imediato, ao ponto de entrar na sessão com coriza e sair sem desconforto e sem o nariz estar escorrendo”, lembra. Na segunda gravidez, Viviane não conseguiu fazer sessões de acupuntura e notou mais incômodos durante a gestação.

“Os incômodos foram mais evidentes. Tive contrações de treinamento a partir da 26ª semana e também muita pressão no períneo, além de dor nas costas. Era uma mistura de queimação com algo ‘rasgando’ por dentro. A acupuntura fez muita falta”.

Presentes no histórico de muitas mães, cefaleia, lombalgia e síndrome túnel do carpo também podem ser tratadas com as agulhas.

Essa liberação de substâncias de forma endógena (produzidas pelo próprio organismo) é uma opção segura em todas as fases da gravidez, mas deve ser feita por profissionais especializados e com aval dos médicos que companham essa mulher no pré-natal.

Gestantes com distúrbios de coagulação ou anticoaguladas precisam de mais atenção e é preciso atentar para o que os antigos livros da medicina tradicional chinesa chamam de ‘pontos proibidos’, porque alguns deles estimulam a contração uterina.

Viviane e os filhos Vitor e Antonio (Lente Materna Fotografia/Arquivo Pessoal)

 

“A acupuntura, como qualquer tratamento, não promete exclusividade. Pelo contrário, a colaboração do paciente é essencial ao bom andamento de qualquer opção terapêutica”, destaca Silvana Maria Fernandes, acupunturiatra do Centro de Medicina Integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre.

Silvana cita a correção de hábitos alimentares a ingestão equilibrada de líquidos, um sono regular e prática de exercícios físicos adequados a cada fase gestacional como complementares ao tratamento.  “Tratar ou equilibrar comorbidades, de preferência antes de engravidar e controlar as condições emocionais também são aspectos relevantes abordados na consulta inicial, onde uma anamnese completa deve ser realizada, levando-se em conta todo o histórico médico da paciente, incluindo corpo e mente”, explica.

A literatura também apresenta bons resultados da acupuntura no pós-parto, em distúrbios da lactação (hipogalactia) e em quadros de depressão.

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Quer desmamar seu filho? Sinais ajudam a reconhecer o melhor momento https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/09/09/quer-desmamar-seu-filho-sinais-ajudam-a-reconhecer-o-melhor-momento/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/09/09/quer-desmamar-seu-filho-sinais-ajudam-a-reconhecer-o-melhor-momento/#respond Thu, 09 Sep 2021 13:50:43 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/WhatsApp-Image-2021-09-08-at-12.49.25-6-320x213.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=9269 Assim como sentar, andar, correr ou falar, o desmame deve ser encarado como um processo e não um evento.

Partindo desse princípio, nenhuma criança anda ou fala antes de estar pronta e nenhuma deveria ser desmamada antes de estar madura para isso.

literatura não crava uma idade certa, mas aponta maturidade quando a criança aceita outras formas de consolo, permite não ser amamentada em certas ocasiões, consegue dormir fora do peito e prefere outra atividade a mamar. Além disso, não demonstra ansiedade quando o peito é recusado e tem uma alimentação variada estabelecida.

Aguardar os sinais do desmame nem sempre é fácil para todas as mulheres. Há crianças que acordam mais vezes durante a noite para mamar ou demoram para aceitar o fim da amamentação. Há um cansaço invisível e muitas antecipam o processo.

A OMS recomenda amamentar até os dois anos ou mais, e se uma mãe chegou nessa fase da vida, ela tem muitos motivos para comemorar, afinal o Brasil em 2020 apresentava a média de apenas 54 dias de amamentação exclusiva no peito.

Amamentar exclusivamente por seis meses e seguir amamentando até os dois anos, infelizmente, ainda é um privilégio em nosso país.

Especialistas no assunto orientam desmamar de forma gradual, em uma momento tranquilo da vida da criança, ou seja, sem estar enfrentando outras mudanças drásticas como início da vida escolar, chegada de um irmão ou desfralde. É preciso paciência, porque desmamar pode ser imprevisível e até doloroso para mãe para o filho.

Vale lembrar que desde o nascimento o peito é um local de aconchego, segurança e descanso para o bebê. É o maior porto seguro dele, além de fonte de alimentação, é claro.

Quando Jean* completou dois anos, a empresária Fabiana* decidiu começar o processo de desmame. Leu muito sobre o assunto, fez curso de desmame gentil e aos poucos foi aplicando o que aprendeu na consultoria.

“Sou superativista e pró-amamentação, queria que fosse algo suave e tranquilo igual a tantos relatos que a gente lê na internet, mas não foi tão simples assim”, conta a mãe.

A única “vitória” no processo foi conseguir desvincular o peito do sono do filho, mas no restante do dia, incluindo as madrugadas, o menino demandava muito.

“Quando ele me via já corria pro peito. Ele mamava sempre que estava comigo. A situação estava, na minha opinião, descontrolada”, diz.

Fabiana decidiu parar de ofertar de uma vez, oito meses após o início do processo. “A gentileza já tinha ido pro espaço. Acabei indo por um caminho considerado errado e foi um processo doloroso emocionalmente, que faz com que até hoje eu me sinta culpada pela forma que ele aconteceu”, desabafa.

Já para Mayara Freire, 30, desmamar não estava nos planos, mas Estêvão, de dois anos e sete meses começou a dar os primeiros sinais de que esse tempo está chegando.

Grávida de 5 meses, Mayara conta que surgiram fissuras em seus peitos e ela percebeu que a quantidade de leite também diminuiu.

O filho já ficou três dias sem mamar e inclusive disse que “o tetê agora é do neném”, referindo-se ao bebê que está na barriga. “Nós nunca falamos nada sobre isso com ele. A última vez que mamou foi bem rápido, só um aconchego antes de dormir”, conta a mãe. “Acredito também que o gosto do leite tenha mudado”, observa.

Segundo a pediatra Kelly Oliveira, Mayara tem razão. O leite materno pode sofrer alterações no sabor e na quantidade quando a mãe está grávida novamente.

Na maior parte das vezes é possível amamentar estando grávida. Essa condição é chamada de lactogestação.

“O cuidado maior nesses casos são os aspectos nutricionais da mãe, que devem ser acompanhados de perto. Quando a gestação é de risco, aí então o desmame pode ser considerado”, diz a consultora internacional de amamentação pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE).

Outra forma possível é a amamentação em tandem, quando a mãe oferece o peito para crianças de idades diferentes. A orientação do ginecologista e obstetra também é imprescindível para esses casos.

Kelly não recomenda desmamar de um dia para o outro. “Desmamar de forma abrupta pode trazer consequências negativas para o bebê, principalmente gerar traumas e recusa de alimentos”.

A orientação da especialista é estipular combinados e conversar muito com a criança, cumprindo os combinados para que ela sinta segurança no processo. “Se a mãe define o desmame e volta atrás, a criança ficará confusa, sem saber o que esperar”, explica.

Para a mãe, é importante fazer ordenhas de alívio, retirando leite quando o peito estiver mais cheio. Isso evitará problemas como mastite e fará com que o corpo pare aos poucos de produzir leite. 

*Nomes trocados a pedido da entrevistada

MASTERCLASS

Pais que desejam mais informações sobre desmame gentil podem participar de um evento online e gratuito no YouTube da Pediatria Descomplicada na próxima quinta-feira (9), às 20h30.

A pediatra Kelly Oliveira, consultora internacional de amamentação pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE), Alergista e Imunologista pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) dará uma aula sobre como desmamar sem romper o vínculo com a mãe.

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Clareza sobre nossas feridas evita ferimentos emocionais nos filhos https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/08/31/clareza-sobre-nossas-feridas-evita-ferimentos-emocionais-nos-filhos/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2021/08/31/clareza-sobre-nossas-feridas-evita-ferimentos-emocionais-nos-filhos/#respond Tue, 31 Aug 2021 14:13:15 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/WhatsApp-Image-2021-08-31-at-12.31.19-320x213.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=9208 Ter clareza das nossas dores emocionais é o melhor caminho para não repeti-las em nossos filhos. Esse é um dos pilares da Teoria do Apego, que defende a criação segura para que a criança se desenvolva plenamente em todas as áreas.

Pais que apanharam na infância tendem a agir de forma violenta com seus filhos. Lembrando que gritos, ameaças, castigos e até o silêncio, ao ignorar um pedido de ajuda são considerados violência também.

Esse comportamento ocorre porque os pais repetem o padrão que receberam no passado. É o mais familiar e o que está internalizado dentro deles, independentemente de ser o melhor, é o conhecido e o mais fácil de ser acessado, explica a psicóloga e especialista em Teoria do Apego Arieli Groff.

Para encerrar esse ciclo, ela defende o autoconhecimento. “Não tem mágica, receita pronta ou rápida para isso. E isso requer coragem, disponibilidade interna, entrega e amor”, diz a especialista que lançou o livro “Quando uma Mãe Nasce: Confissões, Dores e Amores da Maternidade” (Editora Pirililampos).

Na obra, a autora aborda assuntos caros à maternidade, como raiva dos filhos, saudade da vida de antes, solidão e o cansaço mental por ter que tomar todas as decisões relacionadas à criança.

Dividido por assuntos, numa espécie de diário, Arieli também fala sobre a convivência forçada durante a pandemia, o dia da primeira birra pública e a fuga para o banheiro na expectativa de ter apenas um minuto de silêncio –o sonho de toda mãe.

“Minha filha tem minha melhor versão em vários momentos. Mas não é brincando de boneca”, revela a psicóloga destacando o mito da mãe perfeita. “Não somos boas em tudo. E não devemos nos cobrar isso. É cruel. É utópico”, afirma.

Reconhecer sentimentos, outro pilar da Teoria do Apego, aparece no capítulo “Hoje Tive Raiva”, onde ela ralata quando a filha a tirou do sério. “Ser mãe não me canonizou e ela ser minha filha não lhe dá o título de criança mais legal do universo. Ter raiva da minha filha foi o sentimento mais justo e honesto que pude oferecer. E eu disse o que estava sentindo. Nossa relação continua, com ainda mais verdade”, conta a mãe de Maitê, hoje com cinco anos.

“Criança pede presença. A cada comportamento difícil ou ataque de fúria nossos filhos estão nos dizendo ‘me olha’, ‘me ajuda’, ‘ não estou conseguindo sozinho’, ‘preciso de você’. É fácil amar quando ela está brincando de forma criativa e inteligente, de banho tomado, sendo meiga e dormindo como um anjo”, diz o livro.

No livro Quando Nasce uma Mãe, Arieli Groff fala sobre tabus na criação dos filhos (Divulgação)

O seu puerpério foi muito pesado? O que você sentiu e quanto tempo ele durou?

Ele não foi necessariamente pesado, mas me trouxe surpresas e vivências que mesmo já atuando com infância na clínica como psicóloga, eu não tinha clareza de como eram de fato vividos pelas mães. Me trouxe estranhamento e a angústia de por vezes não conseguir nomear o que eu sentia, e com isso, um sentimento de me ver só em tantos momentos, mesmo rodeada de uma rede de apoio afetiva e presente. Para mim foi aos dois anos da Maitê que senti e consegui retomar algumas questões mais voltadas a mim e conseguir me priorizar em algumas coisas. No final do primeiro ano eu senti um alívio do tipo “conseguimos, vivemos e sobrevivemos” e ao final dos dois anos dela veio esse sentimento de me ter de volta.

Por que a ideia de mãe perfeita faz tantas mães reféns?

Percebo que esse estranhamento que senti é também vivido por muitas mulheres, onde existe uma romantização de como é a chegada de um bebê e pouco se fala de sentimentos que não são vistos como positivos socialmente, como a tristeza, raiva, cansaço, questionamentos sobre a escolha de ter tido filhos, mas que se fazem presentes na realidade de muitas mães. E então quando a mulher sente isso, se percebe sozinha, inadequada, culpada de não sentir só amor e gratidão 24 horas por dia, que também estão presentes, mas não são exclusivamente o que se sente. E com isso, muitas mulheres se envergonham de compartilhar suas vivências, sentimentos, medos, cansaços, como se não tivessem o direito de reclamar. Acredito que esse é um aprisionamento que só iremos abrir aos poucos, com informação, diminuição da cobrança social em cima das mães e rede apoio, individual e coletiva, como sociedade.

Você conta sobre alguns momentos de fuga para cuidar de si, nem que seja no sofá para ter um tempo para ver uma série, ou no banheiro para fazer um xixi em silêncio. O quanto essas fugidinhas te ajudaram a não pirar ou levar a maternidade de forma mais leve?

Me ajudaram muito. Foram quase dois anos com a sensação que a minha vida não me pertencia mais, eu descansava enquanto trabalhava (atendimento em consultório). Esses pequenos momentos me traziam a sensação de ter o controle sobre alguma coisa, por menor que fosse, de que eu ainda tinha autonomia sobre meu tempo e espaço para escolher algo que fosse por mim e para mim.

Você assume que não gosta de brincar, que seu melhor é encontrado em outros momentos com a Maitê. Quando você descobriu isso e aceitou que brincar, algo tão importante para uma criança não era muito sua praia? 

Falo desse brincar mais tradicional, especialmente com meninas, que se espera que se brinque de bonecas, por exemplo, e que a mãe goste disso. Interagimos de outras formas, mas teve o tempo em que ainda me cobrei que precisava gostar de tudo que minha filha tivesse interesse em brincar. Até que entendi que aceitar quais eram as minhas brincadeiras favoritas e que eu não precisava gostar de tudo, me trouxe alívio e assim pude me entregar com mais prazer naquilo que gostava e até mesmo nas brincadeiras que não gostava muito, pois agora não havia cobrança, mas o amor de fazer algo pela felicidade dela.

Você fala sobre sentir raiva da sua filha em alguns momentos. Muitas mães têm medo de assumir isso e você fala com muita naturalidade sobre essa raiva. Alguma mãe já te deu feedback sobre sentir isso e estar aprisionada no medo das opiniões alheias sobre esse sentimento?

Muitas. Alguns sentimentos não são socialmente validados e tampouco valorizados. A raiva é um deles e se mostra como se fosse incompatível com a maternidade. Mas os sentimentos não são nem bons nem ruins, apenas são, o que fazem deles terem um aspecto mais positivo ou negativo é o que escolhemos fazer com eles, e isso vem de um lugar de consciência, autoconhecimento, empatia consigo mesma, o que leva a possibilidade de uma regulação emocional. Com isso, muitas mães me relatam que se sentem julgadas, culpadas, inadequadas e envergonhadas de assumirem o quanto seus filhos tantas vezes despertam raiva, aumentando o senso de solidão que leva à mais raiva. A raiva surge como a percepção de não se sentir vista, sem apoio, percebendo que chega em um limite e/ou quando se vê com recursos internos escassos para lidarem com os filhos. A raiva é uma expressão de cobranças externas e internas, frustrações e desamparos vividos pelas mães.

 O que a pandemia despertou de melhor em você como mãe ? E o pior?

 Ter minha filha 24 horas por dia em casa me fez agradecer por ter o privilégio de conseguir manter a rotina com ela e de trabalho (desde 2018 passei a atender somente online, e meu marido também já trabalhava home office, então já estávamos adaptados a esse modelo de trabalho), nos exigiu criatividade, readaptações, como todas as famílias, morávamos fora da nossa cidade, sem nenhuma rede de apoio (desde junho retornamos para Porto Alegre, morávamos em Florianópolis por uma escolha desde 2018 por mais qualidade de vida, mas a pandemia fez revermos prioridades e voltamos para mais perto da família e amigos daqui), mas ainda assim me fez agradecer pela vida que tinha, pelo privilégio da rotina que criamos e me fez também aproveitar mais os momentos com a minha filha. Ao mesmo tempo, precisei de mais “momentos de respiro”, mas aprendi a respeitar esses movimentos, entender quando meu melhor talvez fosse sair de cena, olhar para mim, me dar um tempo, e retornar podendo ser uma mãe o mais inteira possível.

Até que ponto sua filha pode ser ela e quando você “entra em cena” para evitar uma combinação de roupa que não acha adequada, ou fazer algo que não estava no script pelo fato dela ser criança?

Esse foi, e é, um grande desafio para mim. Sou opinativa, gosto de participar de escolhas e é uma nota mental que atualizo todos os dias, de entender que meu gosto, opinião, ponto de vista é somente uma única forma de entender e enxergar o que quer que seja, e não necessariamente a melhor, tampouco a preferida da minha filha, e que não é por ela ter cinco anos que a minha opinião precisa ter mais valor que a dela. Claro, há questões que aos cinco anos ela não tem sequer maturidade para decidir, e aí entendo ser meu dever entrar em cena. Mas em assuntos e situações que ela já possui autonomia pela idade para escolher, procuro incentivar que ela decida. Provoco ela a dizer o que prefere, o que gostaria. Isso vale para roupas por exemplo (desde que não queira sair fantasiada de sereia em um frio de 2ºC do sul) até para questões comportamentais. Quando se chateia ou nos desentendemos, procuro após estarmos emocionalmente mais estabilizadas, conversar com ela, perguntar se entende que a forma como reagiu foi a melhor, como poderia agir em uma próxima situação.

Muitos pais estão ao lado, mas não estão presentes na vida dos filhos. O que essa presença decorativa provoca no emocional das crianças ao seu ver?

Acredito que nada em nossa vida deva ser encarado como sentença, a capacidade de transformação é sempre possível, mas é fato que muitas das vivências da infância deixam marcas e influenciam no desenvolvimento emocional, construção de vínculos e relacionamentos futuros da criança. São várias as mensagens que podemos passar sendo uma presença ausente: fazer com que a criança não se sinta importante, gerar um entendimento que esse amor é condicionado (a criança perceber que é digna de atenção se faz determinadas coisas, por exemplo), gerar comportamentos intensos na criança como forma de chamar a atenção, apresentar dificuldades escolares para igualmente se sentir vista e com isso se desenvolverem adultos com um baixo senso de merecimento, que cultivam relacionamentos de submissão (sejam afetivos, de amizade ou no trabalho, com colegas e chefes) e por vezes expostas à violências (seja física, emocional e/ou psicológica), dificuldade de confiar nas pessoas e em si mesmos. Em termos de construção de vínculos, qualidade e quantidade importam.

Como os pais podem ter essa consciência que você diz necessária para criar sem aprisionar ou sem cometer tantos erros?

Autoconhecimento. Não tem mágica, receita pronta ou rápida para isso. E isso requer coragem, disponibilidade interna, entrega e amor, muito amor. Estudar sobre infância, educação, vínculos também é muito importante. Passamos a vida estudando para nossos trabalhos, por que temos a pretensão de achar que não precisamos estudar para a missão mais importante e de maior responsabilidade das nossas vidas? Além disso, poder se olhar com gentileza, empatia e a expectativa da busca pela perfeição, ela é utópica e cruel.

Por que vemos tantos pais repetirem os mesmos erros que juraram que não cometeriam com seus filhos?

O nascimento de um filho é como a abertura de um portal, onde nossos filhos nos catapultam a viver o afeto em sua máxima potência, pois conforme mostra a Teoria do Apego (a qual estudo e é a base teórica que permeia meu trabalho há 16 anos), a criança necessita se sentir segura e protegida para se desenvolver, isso é biológico e inato, e que em qualquer sinal de ameaça, liga seu comportamento de apego, solicitando esse amparo da figura principal de cuidado ( sendo essa ameaça real e legítima para quem a sente, podendo ser desde fome, frio até sentimento de solidão). Ao fazer isso, a criança muitas vezes pede aos pais algo que não receberam em suas próprias infâncias, tráz à tona dificuldades vinculares dos próprios pais, e então muitas vezes pais, com pouca clareza de suas dificuldades e com autoconhecimento não muito aprofundado, tendem a repetir o padrão que receberam, por ser o mais familiar e o padrão que está internalizado dentro de si, independente de ser o melhor, é o conhecido.

Psicóloga especialista em Teoria do Apego Arieli Groff, autora de Quando nasce uma Mãe (Arquivo Pessoal)

Trecho do livro: Nenhuma Novidade

“Especialmente nesse período de isolamento, me peguei pensando nas coisas que precisei abrir mão, seja para mantermos a saúde, seja porque nossa rotina mudou por aqui com Maitê 24 horas por dia em casa. Aí percebi que, por mais que tenha precisado de adaptações, não foi algo inédito.

Percebi que mãe quando vem a parir já abre mão de um monte de coisa. Quiçá já durante a gravidez. Ou pelo simples fato de sermos mulheres. Cursos de gestantes não deveriam ensinar como dar banho ou trocar fralda, tampouco fazer o desserviço de dizer que o bebê tem que mamar a cada 3 horas. Deveriam compartilhar mesmo “como abrir mão da sua vida e se manter sã”, “como se reconhecer após perder sua identidade”.

Deveria ser item obrigatório. Mas isso ninguém nos conta. Não é bonitinho, corrobora para manter as mulheres em uma posição de culpas e deveres como o patriarcado precisa. Enfim, esse tal patriarcado tem me tocado muito nos últimos tempos.

Mas voltando aos meus pensamentos, percebi que, de alguma forma desde meninas, somos ensinadas a sermos as boazinhas, as educadas, a ter modos de mocinha, a dizer amém para os outros e ainda rindo, a deixar nossos quereres de lado. Mas aí nos tornamos mães, e acredito que o que torna tão penoso nesse abrir mão de si mesma não são nossos filhos.

É a reedição de nos sentirmos, mais uma vez, como na nossa história, tendo que nos deixar de lado. Não é algo inédito. Nesse silêncio da casa, me vendo sozinha ainda, entendi que ser mãe não é somente sobre abrir mão de si, é sobre abrir espaços para permitir se transformar.

Deixar que o novo nos atravesse e faça morada. É autorizar trocar a roupa da alma e se preencher de sentimentos, vivências, pensamentos agora, sim, inéditos. E por isso, às vezes, tão assustadores que escolhemos fugir, nos proteger através de medos e reclamações.

Ser mãe é um ato de fé, é ter a coragem de se jogar no vazio e ser surpreendida por aquilo que ninguém nos conta e, ainda assim, seguir inteira, mas agora, de um outro jeito desconhecido. E aí o peso pode ir embora, por mais difícil que seja. O que fica é leveza e amor”.


 SERVIÇO

Quando uma Mãe Nasce: Confissões, Dores e Amores da Maternidade

Autora: Arieli Groff

R$ 45, Editora Pirililampos, 115 páginas.

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Aviso: Vou ali ter dois bebês e já volto https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/09/16/aviso-vou-ali-ter-dois-bebes-e-ja-volto/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/09/16/aviso-vou-ali-ter-dois-bebes-e-ja-volto/#respond Wed, 16 Sep 2020 13:01:20 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/WhatsApp-Image-2020-09-15-at-22.32.12-320x213.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8973 Este blog ficará alguns meses sem conteúdo novo porque estou entrando em licença-maternidade.

É uma gestação gemelar e certamente não deve chegar até 40 semanas como foi a minha primeira gravidez.

Gerar dois bebês em meio a uma pandemia foi uma experiência muito louca. Futuramente detalharei tudo que passei aqui.

Estar “guardada” em casa podendo fazer pausas pra aliviar a pubalgia e as dores na lombar sem precisar sofrer no trem e no metrô lotados diariamente foi maravilhoso.

Mas o confinamento e a falta de abraços pesaram muito. Sou abracenta, fazer o quê?

Um beijo no seu coração e até breve.

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Está grávida durante a pandemia? Pesquisadores querem ouvi-la https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/07/15/esta-gravida-durante-a-pandemia-pesquisadores-querem-ouvi-la/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/07/15/esta-gravida-durante-a-pandemia-pesquisadores-querem-ouvi-la/#respond Wed, 15 Jul 2020 15:30:09 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/WhatsApp-Image-2020-07-15-at-12.17.17.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8927 Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) estão realizando um levantamento sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus na vida das gestantes sob diversos aspectos.

O objetivo do grupo é ouvir mil gestantes de diferentes partes do país, e o trabalho visa beneficiar a assistência futura às mulheres.

Para participar, clique no link abaixo:

https://redcap.hc.fm.usp.br/surveys/?s=3WK3PAMFK4

Somente os pesquisadores terão conhecimento das informações fornecidas. Os dados pessoais não serão usados em momento algum e as respostas somente serão divulgados nos meios científicos.

Dúvidas podem ser tiradas pelo e-mail: victormascarenhas@usp.br

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Pandemia obriga mães a pedirem demissão após licença-maternidade https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/06/23/pandemia-obriga-maes-a-pedirem-demissao-apos-licenca-maternidade/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/06/23/pandemia-obriga-maes-a-pedirem-demissao-apos-licenca-maternidade/#respond Tue, 23 Jun 2020 13:55:29 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/WhatsApp-Image-2020-06-22-at-19.11.50.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8886 Em meio à pandemia do coronavírus, mães que estão de licença-maternidade e precisam retornar ao trabalho estão preocupadas com o futuro dos filhos. Sem poder colocá-los em creches ou contratar babás, muitas delas são empurradas a pedir demissão por não encontrarem uma saída.

“Não sei o que fazer. Preciso voltar pessoalmente para a empresa, lá não tem home office lá. Fora isso, não tenho parentes por perto, nem posso contratar ninguém para ficar com meu filho”, diz Rute*, mãe solo de Matheus*.

Marcela* também está prestes a voltar ao trabalho após quatro meses de licença-maternidade e mais um mês de férias. Apesar da possibilidade de trabalhar no esquema de home office, não sabe como vai fazer com a pequena Ingrid*. Seu marido trabalha em horário comercial, ela não tem parentes próximos nem pode contratar uma babá para a menina.

“Sem escola, como vou fazer com a bebê sem comprometer meu trabalho? É uma vantagem estar em casa, mas a minha filha vai exigir uma atenção que meus patrões não estão dispostos a permitir”, lamenta a profissional que já pensou em pedir demissão assim que retornar.

“Meu pensamento desde o início era de colocar meu filho na creche, mas com a pandemia, não consegui fazer a matrícula. Meus sogros moram perto, mas os dois trabalham. Minha mãe é de outro estado e não pode ficar aqui porque é grupo de risco”, conta Beatriz*.

“Por um lado, sair do trabalho e ficar cuidando dele seria maravilhoso, pois acompanharia todo o desenvolvimento. Por outro lado, sair do trabalho no meio dessa crise é desesperador. Qual garantia vou ter que conseguirei retornar ao mercado de trabalho? Como vou sustentar meu filho?”, questiona a auxiliar de escritório.

“É uma escolha muito difícil, mas até o momento o que está mais certo é que terei que arriscar e parar de trabalhar. Vou colocar meu filho em primeiro lugar” diz Beatriz*, que retornará da licença daqui 10 dias.

Sem escolas, nem parentes disponíveis para ficar com os bebês, mães são obrigadas a pedir demissão após o fim da licença-maternidade (Imagem: Adobe Stock)

Pensando em reduzir essa vulnerabilidade, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) apresentou o projeto de lei 2765/2020, que garante a ampliação da licença maternidade de 120 para 180 dias, e o da licença-paternidade, de 5 para 45 dias.

O texto, que está na fila para ser votado com urgência, também cria a licença-cuidador, que visa ampliar o período de licença para cuidados com o bebê por mais 180 dias. Neste caso, ela pode ser compartilhada com o companheiro, a critério da mãe, sem prejuízo do emprego e nem do salário.

“Em condições normais, 50% das mulheres são demitidas após o retorno da licença. Pensando em uma crise sanitária, sem perspectiva de fim, a situação ainda é pior. Sabemos que muitas empresas podem quebrar e, como sempre, as consequências das crises recaem sobre as mulheres”, afirma a deputada.

Integrante da Bancada Ativista em São Paulo, a deputada estadual e presidente da Associação Artemis, Raquel Marques, lembra que o ECA e a Constituição Federal dizem que crianças são responsabilidade do Estado, da sociedade e das famílias. “Na prática o Estado assume pouca responsabilidade, a sociedade, representada pelas empresas, também fazem pouco e a criança passa a ser vista como problema privado da família e, em última instância, apenas da mulher que a pariu”.

“De um lado a mulher precisa trazer sustento -lembrando das muitas famílias que são chefiadas por mulheres- e ao mesmo tempo se a mãe deixa a criança em casa é abandono de incapaz. Essa conta só fecha colocando uma vida em risco, deixando criança sozinha ou abrindo mão do emprego e tendo consequências financeiras”, afirma a ativista.

Raquel lembra que para o projeto ganhar força no Congresso é preciso pressão popular. Ela cita o envio de e-mails cobrando dos deputados a inclusão do projeto na pauta como uma urgência como uma das formas de mobilização.

“Não é possível que o cuidado com as crianças seja colocado como algo não prioritário. Estamos expondo a vida das crianças e aumentando a desigualdade dessas mulheres. Esse assunto não pode ser tratado como um problema privado”, reforça Raquel Marques.

*Os nomes foram trocados a pedido das mães.

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Autora sobre violência obstétrica ganha apoio virtual e já mira 2ª edição de livro https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/06/01/autora-sobre-violencia-obstetrica-ganha-apoio-virtual-e-ja-mira-2a-edicao-de-livro/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/06/01/autora-sobre-violencia-obstetrica-ganha-apoio-virtual-e-ja-mira-2a-edicao-de-livro/#respond Mon, 01 Jun 2020 12:13:37 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/WhatsApp-Image-2020-05-29-at-14.54.27.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8872 Em menos de 15 dias, a jornalista Caira Lima,22, trocou o sentimento de frustração pela comemoração após o sucesso nas vendas de seu livro.

Dia 14 de maio, ela usou sua conta no Twitter para desabafar. “Quis realizar o sonho de publicar meu livro. A editora disse que eu poderia ir pagando conforme vendesse, mas eles acabaram me enrolando, fiz uma dívida enorme com a gráfica e agora com a pandemia os eventos que eu ia pra vender estão cancelados. Não sei o que fazer”, disse na postagem.

Mesmo com apenas 775 seguidores, a publicação alcançou mais de 48 mil pessoas e rapidamente os livros foram sendo vendidos pelo país. A autora conta que a segunda tiragem está prestes a se esgotar e ela já mira a segunda edição do projeto. 01Ah, e a gráfica foi paga!

Fruto de seu trabalho de conclusão do curso em Jornalismo pela pela Universidade Federal do Tocantins, A dor mais doída – Relatos de Violência Obstétrica traz dados e entrevistas com mulheres que foram violentadas nas mais diferentes formas no dia em que era para ser um dos mais felizes de suas vidas.

“É muito comum culparem as mulheres pela falta de informação, mas esquecem que durante o processo do parto, muitas são excluídas das decisões que vão ocorrer em seus corpos. Elas sentem como se qualquer pessoa naquela sala [de parto] poderia tomar decisões pelo corpo, menos ela, a mãe, que vira coadjuvante, quando deveria ser a protagonista”, observa.

Caira disse ter se surpreendido com o fato de que a violência obstétrica não está restrita às pacientes do SUS.

“Em minha pesquisa também percebi que a violência obstétrica gera um peso para o resto da vida. Mulheres mudam a forma de ver o mundo e isso pode desencadear problemas psicológicos futuros como depressão pós-parto ou dificuldades na amamentação, por exemplo”.

Caira percebeu que a mágoa é um ponto comum entre as entrevistadas. “Além da dor sofrida no dia do parto, elas demonstram sofrimento por não terem sido acolhidas por familiares e pessoas próximas também”. Muitas delas precisavam falar, desabafar, e não encontraram a escuta em ninguém.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Recentemente, o Ministério da Saúde decidiu abolir o uso do termo “violência obstétrica” das políticas públicas e normas do governo. Contrariando a decisão, o Ministério Público Federal de São Paulo reconheceu o direito de uso do termo e afirmou que o termo é legítimo.

“Durante crises políticas é muito comum os direitos das mulheres serem retirados”, lembra Caira. Para a autora, esse tipo de violência só será combatida se toda a sociedade for informada a fundo sobre o assunto e não só as mulheres que passarão pelo parto. “Informação é direito e não privilégio”, conclui a jornalista.

TRECHO DO LIVRO

“Ísis queria que Ícaro viesse logo ao mundo, aquele sofrimento tinha que acabar. Durante essas horas, apenas um médico que estava de plantão a examinou, uma única vez. A dor e desespero foram tão grandes naquele momento, ela se sentiu tão invadida, que sua reação foi de arranhar a pele do médico com as próprias unhas. Era um desespero difícil de imaginar, uma dor que ela não conhecia, um momento que ela jamais imaginava que seria daquela forma. – Ele foi muito grosso pra fazer o meu exame de toque. Eu tava com muita dor e disse que, se era assim o exame de toque, ele que me perdoasse, mas eu não queria mais nenhum. Depois de fazer o exame de toque, o médico disse que só tinha quatro centímetros de dilatação e que ela deveria esperar porque aquele processo ia demorar. Ela ficou sozinha novamente, sem respostas, com medo e totalmente desnorteada. O tampão saiu. Começou a gritar alto chamando as enfermeiras, só queria saber se o chuveiro estava funcionando, porque queria colocar água quente nas costas para tentar aliviar um pouco da dor. Não estava funcionando. Naquele momento, o quarto era invadido pelos gritos desesperados de Ísis. A única coisa que estava ao seu alcance era clamar por ajuda, mas isso de nada adiantava. Ninguém fazia nada por ela, ninguém lhe massageava as costas, ninguém lhe dizia que tudo ia ficar bem. Pelo contrário, as enfermeiras diziam que quanto mais ela gritasse, menos viriam lhe ver. Acabou fazendo xixi na roupa, na sala do pré-parto, porque ninguém foi com ela ao banheiro e ela tinha medo de se machucar. – Eu cansei de gritar porque ninguém ouvia. Eu dizia que não tinha mais forças e elas respondiam: “mãezinha, é natural. Você tem força”. Ninguém segurou a minha mão. E ninguém deixou o meu marido entrar. Ninguém nem avisou. E ninguém avisou pra ele que eu tava na sala”.

Capa do livro A Dor Mais Doída, de Caira Lima

A DOR MAIS DOÍDA

(Editora Cultura, 87 páginas) 

R$30,00 + frete R$ 7,00

Encomendas pelo telefone (63) 98123-4812 –

Instagram: @kkcaira

PODCAST

Para saber mais sobre violência obstétrica, ouça o podcast 40 Semanas. Três episódios foram dedicados ao tema. Neles, foram ouvidos especialistas e mulheres que, mesmo informadas, não conseguiram escapar da violência física e psicológica durante o nascimento dos filhos.

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Sepaco proíbe enfermeiras obstetras nos partos; para advogada, medida é ilegal https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/04/16/sepaco-proibe-enfermeiras-obstetras-nos-partos-para-advogada-medida-e-ilegal/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/04/16/sepaco-proibe-enfermeiras-obstetras-nos-partos-para-advogada-medida-e-ilegal/#respond Thu, 16 Apr 2020 19:22:38 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/WhatsApp-Image-2020-04-16-at-15.46.42-1.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8828 A partir do dia 1º de maio, o hospital paulistano Sepaco  vai proibir a entrada de enfermeiras obstetras e obstetrizes nas salas de parto. Apesar da pandemia do coronavírus, a medida não tem relação com a Covid-19.

Em comunicado enviado a grupos de atendimento humanizado, o hospital disse que a mudança era analisada há algum tempo e que essa é uma ação estratégica para “maior controle desse processo, bem como a linearidade das ações e eliminação de conflitos técnicos e comportamentais das equipes”.

Isso significa que se uma mulher contratou uma enfermeira obstetra ou obstetriz para seu parto, deverá abrir mão da profissional que a acompanha no pré-natal e aceitar a ofertada pelo hospital.

Para a advogada Renata Antunes Archilia, que atua em casos de violência obstétrica, a medida é ilegal porque contraria a norma 398 (2016), da ANS, que obriga hospitais a cadastrarem enfermeiras obstetras e obstetrizes externas. Essa norma foi publicada após uma ação civil pública.

“Todos os hospitais credenciam médicos para atender partos particulares. É necessário manter o credenciamento de enfermeiros externos porque essa norma possibilita a escolha da equipe, e assim diversifica o atendimento, além de proporcionar o maior número de partos normais”, diz.

Enfermeiras no parto ajudam a reduzir mortes maternas (Foto: @katialopesfotografiadeparto )

Para se ter uma ideia da importância dessa profissional, o relatório SowMy (OPA/OMS) de 2014, mostrou que a presença da enfermagem obstétrica é responsável pela redução de até dois terços das mortes maternas e neonatais motivadas pelas boas práticas com menores índices de intervenções cirúrgicas e medicamentosas.

“Gestantes que se sentirem lesadas podem acionar a Justiça por danos morais”, afirma Renata.

GESTANTES PREOCUPADAS

A publicação da informação gerou uma mobilização de muitas gestantes que tinham o Sepaco como opção de maternidade.

“Mudarei meu planejamento de parto. [O Sepaco] era minha primeira opção, mas com essa decisão arbitrária e ilegal, fica impossível. Farei uma denúncia à ANS”, afirma uma gestante na página do hospital nas redes sociais.

“Onde está a humanização num local onde a parturiente não pode levar sua equipe de confiança, que inclui as obstetrizes e enfermeiras obstetras? Lamentável se dizer humanizado, tomando tal medida”, lamenta outra grávida na página.

“Tinha planejado o parto do meu filho com vocês. Quando soube que vocês estão proibindo a entrada de profissionais de assistência ao parto vi que vocês não tem a menor ideia do que é acolher uma vida”, criticou um pai.

O Blog Maternar entrou em contato com a ANS e o Coren-SP, mas até o momento não recebemos resposta. Caso enviem nota, esse texto será atualizado.

PANDEMIA E O DIREITO DAS GRÁVIDAS

A pandemia do coronavírus mudou a rotina de muitos hospitais pelo país, impedindo a entrada de enfermeiros obstétricos, obstetrizes, doulas, fotógrafos ou cinegrafistas na sala de parto. Muitos hospitais pelo Brasil estão, inclusive, impedindo a presença de acompanhante na sala de parto, outro direito previsto por lei. 

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Medo, angústia e nova rotina; grávidas contam o que mudou com o coronavírus https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/03/24/medo-angustia-e-nova-rotina-gravidas-contam-o-que-mudou-com-o-coronavirus/ https://maternar.blogfolha.uol.com.br/2020/03/24/medo-angustia-e-nova-rotina-gravidas-contam-o-que-mudou-com-o-coronavirus/#respond Tue, 24 Mar 2020 12:48:06 +0000 https://maternar.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/WhatsApp-Image-2020-03-23-at-11.20.31.jpeg https://maternar.blogfolha.uol.com.br/?p=8801 A vida de muita gente mudou por causa do coronavírus e as grávidas não ficaram de fora. Além das questões psicológicas, aspectos práticos como cancelamento de exames e dispensa de funcionários têm mudado a rotina de muitas mães ouvidas pelo Blog Maternar.

Grávida de quase 40 semanas, Amanda Oliveira mudou radicalmente a organização da casa por causa da pandemia. O primeiro filho, de três anos, estava em adaptação escolar e precisou deixar a escola quando estava começando a se acostumar com a nova rotina. A gestante precisou dispensar duas funcionárias que a ajudariam com os afazeres da casa e com os filhos no futuro.

“Desmarquei o último ultrassom e não irei mais às consultas presenciais”, diz a moradora de Santo André (SP), que está saudável e teve o aval do médico para ficar em casa.

Rubia Stevanato, que mora em Maringá (PR), também está isolada em casa com o filho de um ano e nove meses. Ela está grávida de nove semanas e não conseguiu marcar o primeiro ultrassom e nem os exames laboratoriais simples como os de sangue ou urina.

“É uma gestação às cegas. Estou com medo porque faço parte do grupo de risco. Espero que tudo isso passe até outubro, data prevista do parto. Tenho medo de precisar de atendimento médico e não poder ir pro hospital pelo risco de contágio. Não quero colocar nossa vidas em risco”, diz a gestante, que foi hospitalizada algumas vezes durante e após a primeira gestação por problemas no sangue.

Segundo a psicóloga Damiana Angrimani, que atua com grávidas e puérperas, a situação mundial inédita tem gerado muita ansiedade e angústia nas grávidas e isso é totalmente normal.

“Socialmente é imposto às gestantes nunca reclamarem. Está tudo bem se sentir assim. Não dá para fingir que nada está acontecendo. Isso seria ainda mais prejudicial”, explica.

Para a especialista, é preciso dar vazão a todos esses sentimentos e encontrar acolhimento, uma vez que a gestação já evidencia diversas vulnerabilidades na mulher  –a principal delas a falta de controle sobre as coisas.

Ela orienta às futuras mães a reconhecerem seus limites e repensarem algumas escolhas, como sair de grupos onde há excesso de informação sobre o coronavírus (caso isso seja motivo de angústia), ou escolher horários e sites para se informar sobre o assunto (leia a Folha), mas sem passar o dia todo sendo bombardeada de informações ruins.

Preocupada com o pós-parto, Fernanda Fonseca Bernardes, que mora em Brasília (DF), conta que chegou a achar exagero o decreto de quarentena. Mas depois, entendeu a necessidade do isolamento.

Ativa, ela fazia academia, trabalhava o dia todo e agora está sentindo ter que ficar em casa, reclusa. “Apesar de ruim, estou encarando como uma preparação para o próximo mês [quando o bebê nascer]”.

“Estou tranquila porque estamos na reta final da gestação. Creio que se fosse no começo estaria com mais medo”, diz a mãe, citando problemas de formação no feto.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, não há relatos de malformações em bebês por causa do coronavírus. Também não houve casos de contaminação de gestante para o feto e nem pelo leite materno.

“Acredito que teremos problemas familiares, pois vamos restringir ao máximo as visitas, inclusive dos avós. “O bebê, [que é o primeiro neto dos dois lados], é muito vulnerável. Não queremos que ele fique doente”, lamenta a gestante.

CONSULTAS MAIS OBJETIVAS

As mudanças na rotina também atingiram os atendimentos em consultórios médicos, como explica a obstetra Fabiana Garcia, do Espaço Mãe, em São Paulo.

Consultas presenciais foram encurtadas e questões sem urgência são resolvidas por chamada de vídeo ou mensagens de celular. “Pedimos às pacientes virem sozinhas ou acompanhadas de pessoas sem sintomas de gripe”, explica.

No dia do parto, caso a paciente esteja com sintomas de gripe ou já tenha sido confirmada a presença da Covid-19, haverá redução no número de profissionais acompanhantes durante o parto, e toda equipe usará máscara, luva e óculos para evitar o contágio.

A recomendação às mães é que se desloquem à maternidade apenas na hora ativa do parto. “A alta precoce também tem sido utilizada para que as pacientes e bebês fiquem o menos possível nos hospitais”, diz a médica.

Segundo ela, a presença de doulas nas maternidades de São Paulo também está restritas para pacientes assintomáticas, ou seja, sem sintomas de gripe ou resfriado.

Por fim, a obstetra ressalta que o contágio não é motivo para antecipar o parto. “O bebê que nasce antes da hora corre mais risco de ir para UTI e mais risco de encontrar alguém infectado. Ele está bem mais protegido dentro do útero que fora dele”, conclui Fabiana.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

Apesar de tantas mudanças, a psicóloga Damiana Angrimani tem encontrado aspectos positivos no relato de suas pacientes. “Muitas puérperas dizem que o momento não está tão ruim, porque seus parceiros estão em casa. Isso faz com que se sintam menos sozinhas, sentimento tão comum entre as mães no pós-parto”.

A enfermeira obstétrica Cyntia Baraldi, da Casa de Parto Luz de Candeeiro, em Brasília (DF), também pontua relatos positivos em seus encontros online com as grávidas. “Ouvimos que o momento é de recolhimento, de fazer o ninho para o bebê que vem aí, de ter mais tempo para aproveitar a gestação e olhar para si. Se não fosse isso, a maioria delas estaria trabalhando oito, nove horas por dia, sem prestar tanto atenção na gestação como estão fazendo agora”.

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