2,6 mi de bebês morrem todos os anos no parto; precisamos falar sobre as mortes evitáveis
Cerca de 2,6 milhões de bebês nasceram mortos ou morreram ainda primeira semana de vida em 2015. A maioria dessas mortes poderia ter sido evitada, segundo estudo global divulgado na semana passada pela revista ‘The Lancet’, que alerta sobre o silêncio da sociedade para a natimortalidade.
De acordo com o documento, o silêncio sobre a natimortalidade contribui para sua estigmatização e faz com que muitos pais se sintam culpados pela morte.
“Parece que não havia nada a fazer [para evitar aquela morte]. É muito impactante essa falta de sensibilidade para problema”, afirma Sônia Lansky, coordenadora da Comissão Perinatal da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte.
O estilo de vida ou dieta da mãe ainda são apontados como principais responsáveis pelo óbito neonatal, segundo pesquisa citada pela ‘Lancet’.
O que não se fala é que essas mortes seriam evitáveis com medidas simples, como melhoria no atendimento pré-natal da gestante.
Segundo o estudo, a maior parte dos casos de óbito fetal acontece antes do trabalho de parto. E a outra metade, durante o trabalho de parto.
Sônia Lansky, que estuda a natimortalidade no Brasil desde 2002, diz que é importante saber o momento em que a morte fetal acontece para que possam ser elaboradas medidas adequadas de prevenção.
Por isso, é bom saber que as mortes que acontecem antes do parto estão ligadas à má-formação congênita ou condições maternas associadas à gravidez, como anemia, tabagismo, hipertensão, diabetes, infecções e sífilias, por exemplo.
“Cuidar da saúde antes e durante a gravidez faz diferença na prevenção do óbito fetal que acontece antes do parto”, diz Sônia. “. “As ações de prevenção devem ser dirigidas ao pré-natal e saúde reprodutiva, aos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, à assistência adequada para a gravidez desejada.”
Já a morte que acontece durante o trabalho de parto, segundo ela, está ligada à negligência no acompanhamento da gestação e ao excesso de intervenções no trabalho de parto.
“Estamos falando das mortes de crianças saudáveis, sem má-formação, de uma gravidez saudável, de bebê grande no final da gestação. Pode ser negligência pela não-detecção de que bebê entrou em sofrimento e precisa fazer alguma coisa, inclusive uma cesariana, ou por excesso de intervenções no trabalho de parto, que a sociedade brasileira ainda não reconhece isso ainda como problema”, afirma Sônia.
Entre as intervenções que podem levar ao óbito fetal está a aplicação de ocitocina para acelerar o trabalho de parto. “Isso aumenta a chance de hipóxia. Deixar a mulher deitada e imobilizada com pena para cima, comprimindo grandes vasos, reduz a oxigenação para o bebê.”
Há também a o problema do estresse causado pelo parto que não atende ao planejamento da grávida. “Uma mulher estressada, sem acompanhante, sem método para o desconforto da dor, sem ficar na posição que quer, faz do trabalho de parto um momento de estresse e isso está associado a menor oxigenação para o bebê”, diz Sônia.
Para reduzir as mortes causadas pelo excesso de intervenções desnecessárias, o grupo Sentidos do Nascer lançou uma campanha pelo fim da asfixia intraparto, que defende um parto respeitoso e sem pressa.
“A evolução inadequada do parto, a dificuldade de liberação ocitocina endógena podem levar ao sofrimento fetal agudo e complicações durante o parto”, diz Sônia.
Para ela, essas mortes são causadas pelo não-uso das boas práticas na assistência à gestante e pela adoção das más práticas. “As mulheres são assistidas por equipes que ainda intervêm muito. Intervenções que resultam em hipermedicalização, que tem como efeito adverso a má oxigenação e a morte intraparto.”
CONTAGEM
Não são todos os países que contam adequadamente os casos de mortes fetais. A falta de metodologia para contabilizar a natimortabilidade dificulta a elaboração de ações governamentais;
No Brasil, a chance de morrer por forte fetal é de 8,6 por mil nascimentos. Na Finlândia, esse risco é de 2 mortes a cada mil. são
“A contabilização melhorou muito no Brasil. Pelo menos 70% dos óbitos estão sendo investigados hije. Mas ainda está longe de ter a qualidade que a gente quer. É importante ter um registo nacional e um sistema nacional de estudo de óbitos para entender porque eles acontecem e assim identificar lacunas no atendimento que podem se melhoradas para desencadear ações de prevenção”, diz Sônia.
O risco de morrer no parto no Brasil melhorou em relação a 2011, primeiro ano da série da ‘Lancet’, quando a taxa era de 10 óbitos a cada mil nascimentos. Mas isso não significa que as condições para nascer melhoraram. O estudo atrela essa redução de risco de natimortalidade no Brasil à queda na fertilidade.
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