Com cozinha ‘neutra’, empresa conquista mães de meninos; conheça outros produtos
Mães de meninos sabem que eles gostam de brincar de cozinha. O problema é que a maioria das lojas oferece esse tipo de brinquedo em rosa. Não que isso seja um problema, mas o mercado convencionou que essa é uma cor de meninas.
De olho nesse público, a Xalingo Brinquedos lançou uma cozinha infantil nas cores preta, vermelha e branca. O produto acabou agradando as mães de meninos.
“Recebemos pedidos de alguns pais. A aceitação foi muito boa. As mães de meninos comemoraram. Mas também percebemos a necessidade e trabalhamos por um bom tempo nessa ideia de uma cozinha mais neutra”, afirma Tamara Campos, gerente de marketing da Xalingo.
No fim de fevereiro, o professor universitário Arthur William publicou foto do filho brincando com uma cozinha rosa e dividiu opiniões. Apesar das várias mensagens de apoio, muita gente o criticou por deixar o menino brincar com o que achavam que era brinquedo de menina.
“Compramos uma cozinha de brinquedo para que nosso filho aprenda desde cedo que não tem essa de ‘coisa de menina’. Cores, tarefas e locais não determinam sexualidade de ninguém”, escreveu ele em foto publicada em seu perfil no Facebook.
Após o sucesso da cozinha, a empresa se prepara para ampliar a linha de brinquedos neutros. Em abril, a Xalingo lançará o fogão e a geladeira nas mesmas cores da cozinha.
Para Tamara, estamos vivendo uma fase de crianças na cozinha, com programas na TV, aulas de culinária e o próprio incentivo dos pais. “As pessoas estão se preocupando mais com uma alimentação saudável. E o lúdico pode colaborar muito nesse sentido.”
Segundo ela, não são apenas os meninos que querem a cozinha neutra. As meninas também compram, apesar de a empresa oferecer o mesmo produto na cor rosa.
E o que as outras empresas estão fazendo para vencer essa barreira da divisão de gêneros?
A Estrela, por exemplo, criou a linha Faz de Conta, com produtos para as crianças brincar de fazer crepe, raspadinha ou marshmallow. Tradicionalmente voltada para as meninas, a linha não usa rosa _seus itens são em tons de azul, branco e vermelho. E o material de campanha e embalagem coloca meninas e meninos brincando juntos.
Em 2014, a rede de brinquedos sueca Top-Toy ganhou destaque internacional ao criar anúncios sem distinção de gênero. Nos catálogos da empresa, meninos e meninas apareciam brincando com os mesmos brinquedos, sem divisão por gênero.
A Lego, que já sofreu vários questionamentos por tratamento desigual de gêneros, informa que é “uma marca democrática”. E diz que tem “produtos para todas as idades e todos os gêneros.
A Lego possui linhas identificadas com o público feminino, como Friends e Disney Princess.
Já a Hasbro, famosa pelos lançadores Nerf, criou em 2014 a linha Rebelle para meninas. Após um bom resultado de vendas, a empresa vai expandir a linha, com oito novos lançadores.
A Mattel já inclui carrinhos com cores neutras em seus kits da Hot Wheels.
Mas será que essas iniciativas derrubam a divisão de gênero ou só reforçam as diferenças? Por que o rosa ainda é tão proibitivo para os meninos? Acho que essa é uma discussão que vale ser feita dentro e fora de casa.
Laís Fontenelle Pereira, psicóloga e consultora do Instituto Alana, afirma que a divisão dos brinquedos por gênero é uma criação do mercado, não das crianças.
“Essa segmentação foi feita pelo mercado, que criou nichos de consumo para o público infantil”, afirma.
Para ela, esse movimento é que transformou o rosa em cor padrão para as meninas. “É um incentivo para a criança consumir. As princesas de filme logo estampam objetos a serem consumidos.”