Quer desmamar seu filho? Sinais ajudam a reconhecer o melhor momento

Assim como sentar, andar, correr ou falar, o desmame deve ser encarado como um processo e não um evento.

Partindo desse princípio, nenhuma criança anda ou fala antes de estar pronta e nenhuma deveria ser desmamada antes de estar madura para isso.

literatura não crava uma idade certa, mas aponta maturidade quando a criança aceita outras formas de consolo, permite não ser amamentada em certas ocasiões, consegue dormir fora do peito e prefere outra atividade a mamar. Além disso, não demonstra ansiedade quando o peito é recusado e tem uma alimentação variada estabelecida.

Aguardar os sinais do desmame nem sempre é fácil para todas as mulheres. Há crianças que acordam mais vezes durante a noite para mamar ou demoram para aceitar o fim da amamentação. Há um cansaço invisível e muitas antecipam o processo.

A OMS recomenda amamentar até os dois anos ou mais, e se uma mãe chegou nessa fase da vida, ela tem muitos motivos para comemorar, afinal o Brasil em 2020 apresentava a média de apenas 54 dias de amamentação exclusiva no peito.

Amamentar exclusivamente por seis meses e seguir amamentando até os dois anos, infelizmente, ainda é um privilégio em nosso país.

Especialistas no assunto orientam desmamar de forma gradual, em uma momento tranquilo da vida da criança, ou seja, sem estar enfrentando outras mudanças drásticas como início da vida escolar, chegada de um irmão ou desfralde. É preciso paciência, porque desmamar pode ser imprevisível e até doloroso para mãe para o filho.

Vale lembrar que desde o nascimento o peito é um local de aconchego, segurança e descanso para o bebê. É o maior porto seguro dele, além de fonte de alimentação, é claro.

Quando Jean* completou dois anos, a empresária Fabiana* decidiu começar o processo de desmame. Leu muito sobre o assunto, fez curso de desmame gentil e aos poucos foi aplicando o que aprendeu na consultoria.

“Sou superativista e pró-amamentação, queria que fosse algo suave e tranquilo igual a tantos relatos que a gente lê na internet, mas não foi tão simples assim”, conta a mãe.

A única “vitória” no processo foi conseguir desvincular o peito do sono do filho, mas no restante do dia, incluindo as madrugadas, o menino demandava muito.

“Quando ele me via já corria pro peito. Ele mamava sempre que estava comigo. A situação estava, na minha opinião, descontrolada”, diz.

Fabiana decidiu parar de ofertar de uma vez, oito meses após o início do processo. “A gentileza já tinha ido pro espaço. Acabei indo por um caminho considerado errado e foi um processo doloroso emocionalmente, que faz com que até hoje eu me sinta culpada pela forma que ele aconteceu”, desabafa.

Já para Mayara Freire, 30, desmamar não estava nos planos, mas Estêvão, de dois anos e sete meses começou a dar os primeiros sinais de que esse tempo está chegando.

Grávida de 5 meses, Mayara conta que surgiram fissuras em seus peitos e ela percebeu que a quantidade de leite também diminuiu.

O filho já ficou três dias sem mamar e inclusive disse que “o tetê agora é do neném”, referindo-se ao bebê que está na barriga. “Nós nunca falamos nada sobre isso com ele. A última vez que mamou foi bem rápido, só um aconchego antes de dormir”, conta a mãe. “Acredito também que o gosto do leite tenha mudado”, observa.

Segundo a pediatra Kelly Oliveira, Mayara tem razão. O leite materno pode sofrer alterações no sabor e na quantidade quando a mãe está grávida novamente.

Na maior parte das vezes é possível amamentar estando grávida. Essa condição é chamada de lactogestação.

“O cuidado maior nesses casos são os aspectos nutricionais da mãe, que devem ser acompanhados de perto. Quando a gestação é de risco, aí então o desmame pode ser considerado”, diz a consultora internacional de amamentação pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE).

Outra forma possível é a amamentação em tandem, quando a mãe oferece o peito para crianças de idades diferentes. A orientação do ginecologista e obstetra também é imprescindível para esses casos.

Kelly não recomenda desmamar de um dia para o outro. “Desmamar de forma abrupta pode trazer consequências negativas para o bebê, principalmente gerar traumas e recusa de alimentos”.

A orientação da especialista é estipular combinados e conversar muito com a criança, cumprindo os combinados para que ela sinta segurança no processo. “Se a mãe define o desmame e volta atrás, a criança ficará confusa, sem saber o que esperar”, explica.

Para a mãe, é importante fazer ordenhas de alívio, retirando leite quando o peito estiver mais cheio. Isso evitará problemas como mastite e fará com que o corpo pare aos poucos de produzir leite. 

*Nomes trocados a pedido da entrevistada

MASTERCLASS

Pais que desejam mais informações sobre desmame gentil podem participar de um evento online e gratuito no YouTube da Pediatria Descomplicada na próxima quinta-feira (9), às 20h30.

A pediatra Kelly Oliveira, consultora internacional de amamentação pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE), Alergista e Imunologista pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) dará uma aula sobre como desmamar sem romper o vínculo com a mãe.

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